quinta-feira, janeiro 26, 2006

- Bom dia!
- Bom di... é, minina, que se passa?
- É a minha alergia. Desde que cheguei a Portugal, fico assim no inverno. Alergia ao frio.
- Pois não. Se eu tivesse vindo do Brasil, também era alergico de certeza absoluta.
- Não brinca vá. Estou entupida com tanto frio e mofo. Ainda por cima a minha casa é um gelo.
- Então é melhor eu preparar um chá de limão, bem quente, e umas gotinhas de menta. Pode não fazer nada, mas pelo menos o vapor vai ajudar a respirar melhor. Mas isso do mofo, não é sempre mau...
- Qui não é mau, qui nada.
- Claro que não..., pronto eu explico. Estou a brincar. Referia-me ao facto de um dos tratamentos que salvou milhões de pessoas no inicio do sec. XX, surgiu exactamente do Bolor. A penincelina.
- Pois, só podia mesmo estar a brincar comigo.
- Mas olha que não é brincadeira, o bolor não foi e não é, só aplicado na medicina.
- Pronto, já lá vem brincadeira...
- Não. Não é brincadeira. É que, por exemplo, os grandes apreciadores de queijo sabem que o que confere a alguns queijos, como o brie, o camambert, o queijo azul dinamarquês, o gorgonzola, o roquefort e o stiltor, aquele sabor caracteristico é exactamente o bolor, mas não um qualquer, mas sim o do tipo Pinicilium.
- É verdade, mas isso é mesmo só para os apreciadores. Eu não sei se era capaz de comer esses queijos...
- Eu não sou. Garantido. Já o meu filho... não sei. Aquele devora tudo o que sejam queijos. Mas há mais. Por exemplo os vinhos doces, podem atingir uma maturação melhor se as uvas forem colhidas com a quantidade certa de fungos nos cachos. Por isso até para colher as uvas requer saber a altura certa.
- Verdade? Bolor no vinho?
- Exactamente. E para comprovar nada como usar um provérbio dos vinicultores hungaros: "um mofo nobre resulta num vinho de boa qualidade"
- Por acaso, não tem desse vinho aí... é que acho que me fazia melhor que o chá.
- Infelizmente não. Mas posso sempre aquecer um poncho.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Algumas histórias de chá

Conta uma lenda chinesa que no ano 2737 a.C., o imperador Shen Nung descansava sob uma árvore quando algumas folhas caíram em uma vasilha de água que seus servos ferviam para beber. Atraído pelo aroma, Shen Nung provou o líquido e adorou. Nascia aí, o chá.

É bem provável que essa história nem seja verdadeira, mas dá um ar romântico à origem de uma bebida conhecida mundialmente. Esta lenda é divulgada como a primeira referência à infusão das folhas de chá verde, provenientes da planta Camellia sinensis, originária da China e da Índia. Na verdade, o primeiro registro escrito sobre o uso do chá data do século III a.C. O tratado de Lu Yu, conhecido como o primeiro tratado sobre chá com caráter técnico, escrito no séc. VIII, durante a dinastia Tang, definiu o papel da China como responsável pela introdução do chá no mundo.

Os chás... variações

O chá é tradicionalmente classificado em quatro grupos principais baseados no grau de fermentação:

Chá branco - folhas jovens (novos botões que cresceram) que não sofreram efeitos de oxidação; os botões podem estar escudados da luz do sol para prevenir a formação de clorofila.

Chá verde - a oxidação é parada pela aplicação de calor, quer por vapor, um método tradicional japonês, ou por mergulhar em bandejas quentes - o método tradicional chinês).

Oolong (烏龍茶) - cuja oxidação é parada algures entre o chá verde e o chá preto.

Chá preto - oxidação substancial. A tradução literal da palavra chinesa é chá vermelho, o que pode ser usado entre os fãs de chá.


variações pouco comuns - estão disponíveis várias preparações de chá que não se enquadram na nomenclatura usual.

Pu-erh (普洱茶) - Por vezes considerados como uma subclasse de chá preto, pu-erh é um produto muito invulgar. O Pu-erh é, por vezes, descrito como duplamente fermentado: a segunda "fermentação" pode ser ação de micróbios e moldes. Enquanto que a maiorias dos chás são consumidos num ano após a produção, o pu-erh pode ter mais de 50 anos. O chá é normalmente embebido por um longo perídodo de tempo ou até mesmo fervido (os tibetanos são conhecidos por deixá-los a ferver durante a noite). O Pu-erh é considerado como um chá medicinal na China.

Chá amarelo - é usado como um nome de chá de alta qualidade servido na corte imperial, ou de um chá especial processado similarmente ao chá verde, mas com uma fase mais curta para secar.
Chong Cha (虫茶) - literalmente "chá quente", esta espécie é feita a partir de sementes de botões de chá em vez de folhas. É usado na medicina chinesa para lidar com o calor do verão bem como para tratar sintomas de gripe.

Kukicha ou chá de inverno - feita de galhos e folhas velhas twig podadas da planta de chá durante a época dormente e tostado a seco sob o fogo. É popular na mediciona tradicional japonesa e na dieta macrobiótica.

Lapsang souchong (正山小种 ou 烟小种) de Fujian, China, é um chá preto forte que é secado em pinho a arder, logo desenvolvendo um sabor forte a fumo.

Chá Rize - chá preto forte produzido na Turquia, com um sabor distinto e preparação específica, incluíndo pré-aquecimento, servido com açúcar.


in Wikipédia.

segunda-feira, janeiro 23, 2006

O Chá

Algumas curiosidades:

O chá é a infusão de folhas ou botões da planta Camellia sinensis, geralmente preparado como bebida infusionada com água quente. Ou seja, a palavra chá vem do nome dado à planta, por isso tudo o que sejam infusões de ervas secas são chamadas de chá pelo facto de serem preparados da mesma forma, mas correctamente só se pode chamar chá à bebida extraida desta planta.
Camellia sinensis é um arbusto sempre verde cujas folhas, se não são logo secas depois de apanhadas, rapidamente começam a oxidar. Este processo lembra a maltização da cevada; as folhas ficam progressivamente escuras, assim que a clorofila se quebra. O processo seguinte no processamento é parar o processo de oxidação num estado predeterminado removendo a água das folhas via aquecimento. O termo fermentação foi usado para descrever este processo, mesmo que na verdade nenhuma verdadeira fermentação aconteça (ou seja, o processo não é dirigido por micróbios e não produz etanol).

em Wikipédia, A enciclopédia livre

Hoje, meus amigos, ao contrário do que é habitual, vou ter aqui disponível algumas bebidas fortes, tipo Rum, Vodka, Gin... o que vos aprover... até champanhe.
Isto para seguir a máxima de Napoleão:
"Não beba champanhe só nas vitórias, beba também nas derrotas... é quando lhe faz mais falta"
... e parece-me que vai fazer falta a alguns senhores.

Mas para os meus "queridos" Clientes (amigos), continua a haver o bom do café, do chá e até do chocolate quente... e mais. É só pedir, se não houver eu vou à procura...

Até já!

sábado, janeiro 21, 2006

Como água para o Chocolate...

Vocês hoje vão me desculpar, mas tenho aí umas amigas a entrarem pela porta fora não tarda, é que fiquei de fazer um chocolate quente, mas depois pus-me para aqui a ler umas coisa e até fiquei curioso.
Vocês por acaso sabem o que significa o tema do livro da Laura Esquível, "Como água para o chocolate"?
É isso mesmo, é que os Maias e outras civilizações ali vizinhas (e que por estranho que pareça, nunca se encontraram, nem se confrontaram), bebiam esse liquido delicioso, feito com água. Os espanhóis mais as suas invenções é que resolveram misturar o leite, para suavizar o sabor acre do cacau.
Bem eu só soube isto no outro livro da senhora "Tão veloz quanto o desejo", porque realmente no outro livro, não vejo relação, ou vai ver, foi por não ter lido o livro todo, bom mas de qualquer maneira, o filme também, não esclarecia... ou será porque também não o vi todo?

Bem não interessa, tenho mais que fazer...

Até já, vou preparar a caixa dos chás não vá alguém querer.

sexta-feira, janeiro 20, 2006

- Bom dia Sr. Manel, então homem... vem mais alegre.
- É verdade, o bébé já está realmente a dar-nos melhores noites. Mas mesmo assim, nada anima mais o dia que passar aqui...
- Então homem, isso tem sempre remédio, a porta está sempre aberta.
- Então dê-me lá aí um cafézinho. Já sabe como eu gosto.
- Então quer dizer que hoje também tomou o pequeno-almoço em casa. Parece que a vida está a voltar ao normal...
- É verdade! Mas hoje quero aí um desses bolinhos de café e cenoura que a Fatinha me falou...
- Oh, Sr. Manel, azar... sabe que isso some num instante. Mas posso é dar-lhe um croquete.
- Não! Eu queria era uma coisinha doce, e ela disse que eram tão bons que queria experimentar.
- Sr. Manel, Sr. Manel... já me devia conhecer melhor. Se lhe falei no croquete é porque não é exactamente os croquetes que está habituado. Estes são doces.
- Doces!? Mais uma das suas invenções...
- Não é minha, mas experimente.
...
- e que tal?
- olhe, e por acaso não me dava a receita destes, para a minha mulher fazer em casa?
- dou, claro! Espere só um minuto que vou ver onde a tenho.
...
- Aqui tem.
50 gr café acabado de moer, em pó
125 gr de açucar
100 gr de coco ralado
1 ovo
raspa de casca de 1 limão
1 colher (sopa) de manteiga sem sal
granulado de chocolate q.b.

Amassam-se todos os ingredientes numa tigela menos o granulado de chocolate.
Moldam-se os croquetes pequenos com as mãos e relam-se no granulado de chocolate. Deixam-se secar no frigorífico e servem-se.

- vê! nem fritos são, fazem menos mal.

Podemos afirmar peremptóriamente que o café é a musa maior dos grandes génios. No livro, O Novo Cozinheiro Americano em Forma de Dicionário (Paris, 1875) diz, "Aquele que possui algum talento, torna-se um génio depois do café. Pela sua influência desenvolve-se a inteligência mais obtusa; o insensível transforma-se em terno e a beleza mais fria anima-se; enfim, tudo se modifica e esse é o triunfo do café."

Como exemplos dessa realidade, poderemos citar nomes de grandes génios que sempre estiveram acompanhados de café, e alguns com exigências extravagantes, como Balzac, Beethoven, Tayllerand, Buffon, Voltaire, Fontenelle, William Harvey, Napoleão, Rossini, Paul Valéry, Alexandre Pope, EU, VOCÊS - grandes nomes que foram "ajudados" nas suas obras de genealidade, por este líquido que foi "fonte de harmonia entusiasta que se encontra nos estilos" de cada um

Curiosidade (?)

Encontrei esta informação, que gostava de partilhar convosco.

J. Sebastian Bach, grande compositor e maior consumidor de café, contava-se entre as suas obras 20 filhos.
Até aqui esta informação não tem nada de mais, não fosse o facto de vir imediatamente a seguir a outra sobre Frederico da Prússia, que tentou que os médicos declarassem o café como causador de esterilidade.

A final em que é que ficamos?

É que em alguns tratados médicos árabes, também se afirma que o café provoca esterilidade nos homens e torna as mulheres frigídas.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Relógio Português na net

Para quem tinha duvidas em relação à capacidade dos nossos especialistas da área, aqui fica para vosso "deslumbramento", o que os senhores andam a fazer tanto tempo na universidade...

Muito bem conseguido!!!

Http://www.yugop.com/ver3/stuff/03/fla.html

- Olha a Fátinha. Então, deixa lá ver esse bébé... coisinha mais fofa! Então e a Fátinha, veio de fugida fazer uma visita?
- Mais ou menos, já estava realmente cansada de estar em casa, e viemos os dois aproveitar o solinho e pensei e tomar um dos seus cafézinhos. Mas ... será que me vai fazer mal?
- Mal, mal não fará, mas ainda está a dar de mamar não é?
- Estou, felizmente.
- Então o melhor é não arriscar ficar excitada e levar isso ao bébé. Eu preparo-lhe um belo chá principe com casca de laranja, para acalmar, mas ... vou dar-lhe um bolinho de café e cenoura, para matar as saudades do cafézinho.
- Bolinho de café e cenoura?! Você e as suas idéias...
- É que estes são feitos com café instântaneo e não fará tanto mal.
- Então e pode saber-se como se faz?
- Claro. Deixe-me servir-lhe o chá e o bolinho, que já vou ver da receita. Pode sentar-se, que eu levo à mesa.
...
- Ora bem, cá está a receitinha:
2 colheres (chá) rasas de café instantâneo em pó
150gr de açucar
3 ovos
2 colheres (sopa) de manteiga
5 colheres (sopa) de puré de cenoura (cozida)
100gr farinha de trigo com fermento
açucar areado q.b. para polvilhar
formas de papel de tamanho médio

Bate-se bem o açucar com a manteiga até ficar um creme fofo: acrescenta-se as gemas, o puré de cenoura, o café, a farinha e as claras bem batidas em castelo.
Deitam-se colheradas de massa nas formas de papel e vão ao forno quente num tabuleiro. Polvilham-se com o açucar antes de se servirem.

- Agora vá lá fazer uma meia dúzia para o Manelinho, que ele coitado anda mesmo de rastos.
- Bem sei, coitado! Mas é um santo homem... e olhe que o cafézinho que lhe deu ontem, diz ele que fez-lhe mesmo bem, ao espirito... bem para falar a verdade, foi mais a sua boa disposição.

- Bom dia!
- Bom dia, Sr. Manuel, como está? Parece mais bem disposto e com melhor cara.
- É verdade. Tenho dormido bem, as mésinhas das avós parece que por vezes resultam, o bébé já tem dormido qualquer coisa, e nós também.
- Ainda bem. Então vamos na torradinha, certo?
- Não, não. Hoje não. Já tomei o pequeno-almoço em casa. Só mesmo um cafézinho, e se calhar aqui um destes rissóis de muito bom aspecto.
- Mas olhe que isso não são uns rissóis quaisquer. São de café.
- Pronto, lá vem você com ideias novas outra vez...
- Mas olhe que são muito bons.
- Um rissól de café? E como é que isso é feito?
- Lá tenho que contar os meus segredos gastronómicos, não é? Está bem, eu explico: primeiro é fazer a massa vulgar dos rissóis, substituindo apenas o sal por açucar, exactamente na mesma quantidade. Estende-se a massa, muito fina e recheia-se com creme de café e uma pitada de amêndoas moídas. Depois de fritos e assim que se tiram do óleo, passam-se por uma mistura de açucar refinado e canela, e ... Voilá. Rissóis de café.
- Então venha de lá essa especialidade, quero ver se realmente isso é ou não digno de ser degustado.

- Olha o Sr. Amancio, tão cedo por aqui?
- Bom dia! É verdade homem, vou a uma consulta...
- Não me diga que anda doente.
- Não homem, é apenas rotina, ou acha que estes 72 anos são de quem está doente?
- É verdade, o Sr. Amancio está aí para as curvas. Mas digo-lhe, gosto mesmo de apreciar as pessoas da sua idade, a sapiencia, os costumes, os seus tempos de juventude...
- Ai os meus tempos de juventude... que saudades, dos bailaricos, do cinema onde iamos namorar...
- Olhe que nesse aspecto os tempos não mudaram muito. E por falar em mudar, sabe o que me aconteceu hoje.
- Então diga lá...
- Bem não foi acontecer, foi mais ver, e lembrou-me uma situação do meu tempo de jovem, pelos meus 14 anos. Aconteceu que ia na rua, e escutava uma senhora já de seus cinquenta e muitos, sessenta anos, que reclamava da forma como os jovens se cumprimentavam. Que antes os homens tiravam o chapéu às senhoras e curvavam a cabeça, mas agora... em vez de se curvarem ainda levantavam era o queixo e o boné, se levavam na cabeça, nem quando entravam em casa o tiravam.
- E é verdade. Ainda cheguei a apanhar carolos por entrar em casa de chapéu...
- Pois é mas os costumes vão se alterando, e assim também a forma de se cumprimentarem. Até me lembro de ter lido uma crónica do Miguel Esteves Cardoso, no Independente, sobre o beijo.
- Sim, sim, também me lembro, dizia que no inicio as senhoras cumprimentavam-se com dois beijos, depois passou a ser só um, e que por vezes acontecia que quando iamos a dar o outro lado da cara já não estava lá boca nenhuma, e por fim já só beijavam o ar. Um pouco ridiculo, também concordo.
- Pois é sr. Amancio, pois é. Agora repare o caricato de hoje de manhã. Reparei num jovem de seus 15 anos, talvez 16, que saía do autocarro e que muito sorridente e alegre, esticou o dedo, num gesto que até aqui sempre foi considerado ofencivo, e cumprimentou um outro que lhe respondeu da mesma forma, também com a mesma boa disposição.
- Não me diga uma coisa dessas...
- Digo sim, e se não tivesse visto, também estaria com essa cara de espanto.
- Esta juventude. Enfim, a ver se isso não pega moda. Olhe, faz-me lembrar o filme daquele inglês cómico.
- O Mr. Been?
- Exactamente.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

O descafeínado

- Então Sr. Canephora, como está?
- Olha a minha cliente favorita. Então por onde tem andado, que ninguém a tem visto. ... um descafeínado em chávena escaldada, não é?
- É sim Sr. Vejo que ainda se lembra.
- Claro. Então o que a trás aqui? Já tinha saudades das suas visitas...
- Tenho andado por aí, mas agora voltei para ficar mais perto, e também já tinha saudades aqui do seu cantinho. E também é verdade que em nenhum outro lado eu bebo um descafeínado como aqui. E já que falamos nisso, explique-me lá afinal essa ehistória do descafeínado, faz bem, faz mal, como é que se consegue um descafeínado?
- Olhe menina, isso de fazer bem ou mal, é como tudo, se abusar, vai fazer mal concerteza. Quanto ao descafeínado em si, não é mais que um café mais suave que é torrado até perder percentagem do seu teor. Eu explico, a cafeína não pode ser dissossiada do café, como é óbvio, mas através do processo de torrefacção de Rungue, é possível atingir um grau de menor saturação nos grãos. Por isso para obter um descafeínado, primeiro temos que ter um café Arábica, que pelas suas qualidades tem menos cafeína que o Robusta, cerca de metade do teor, depoir e conforme provado através de um estudo feito pelo Sr Vanier, que aliás esteve aqui ainda esta manhã, verifica-se que quanto mais escuro ficar o grão, menor o teor de cafeína, sendo que no Arábica, em 100gr de grãos de café, este pode reduzir a cafeína de 1.05, para 0.80 depois de atingido a torrefação desejada, ou seja a mais escura.
- É pá, tanta coisa junta, até me perco... afinal o descafeínado é café, mas com menos teor de cafeína.
- Exactamente. Por isso, se a menina gosta de um café mais aromatizado e menos intenso, pede um Arábica, mais torrado, por exemplo, se quer um café, como se costuma dizer na giria, de levantar mortos, pede um robusta menos torrado.
- É o bom de virmos aqui ao seu cantinho. Não só tomamos um bom café, como levamos sempre daqui uma boa conversa. Até já vou daqui com mais vontade de trabalhar. Até logo.
- Adeus menina, e agora não esteja tanto tempo sem aparecer!
- Não estou não, esteja descansado.

Hoje, enquanto ainda me preparava para abrir as portas, apareceu-me um um senhor, cansado da vida; trazia umas rugas acentuadas, uns olhos cansados, mas no rosto um sorriso que asambarcava a vida.
Abri-lhe a porta e convidei-o a entrar.
Disse-me que tinha ido apenas atrás do cheiro do café e apresentou-se como sendo Michel Vanier, um estudioso do café, em todas as suas vertentes.
Então sentado numa mesa mais recatada contou-me estórias do seu tempo de menino, quando "entre os sacos de café que exalavam um odor exótico, se comprazia a sonhar com países que os seus avós haviam visitado e que depois lhes expediam as suas colheitas de café. Ali estavam os sacos de juta de 60 kg que procediam de Santos, da Baia, de Pernambuco, do Haiti, dos países da América Central, os Costa Rica, os Guatemala e também os Jamaica, aqueles cafés finissimos que desgraçadamente já não conhecemos".
Deixei-me levar pela imaginação, despertei e, enquanto ele deambulava pelas memórias, servi-lhe uma chávena de café bem quente e fui me preparando para a clientela que já não tardava aí.

terça-feira, janeiro 17, 2006

- Olha a minha amiguinha brasileira... então, que cara é essa mulher?
- Nem me diga nada. Tive de ir ao SEF, por causa do meu visto para continuar cá...
- Ui, ui! Imagino. Horas de espera...
- Horas!? Quando lá cheguei não havia mais senhas para dar, e ainda nem eram 10h. A sorte foi uma amiga lá, e ainda consegui ser atendida perto das 17.30h.
- Afinal não correu assim tão mal. Porque com os estrangeiros que cá temos, era de esperar talvez mais.
- Pois, o problema é que quando fui atendida, já não tratavam do meu caso ali. E ainda por cima não tinham nenhuma informação a dizer isso. E mais, só haviam duas pessoas para atenderem mais de 130...
- Pois o típico português. Mas ao menos trataste dos papéis?
- Que nada! Tem de lá ir a minha mãe, no novo local, para ver se pode fazer por mim, senão vou ter de perder outro dia de trabalho.
- Bem, o que está perdido está... deixa lá isso e, ... olha bebe aqui um licorinho de Café, pode ser que te anime.

- ... bom dia!!!...
- Bom dia, .. é lá... qué lá isso? O Home, recomponha-se, até parece que foi atropelado por um camião!
- Antes fosse, antes fosse!
- Então diga lá... porquê essa cara?
- É o bébé. Nem imagina, leva as noites acordado. Coitadito... são as cólicas. E a minha mulher então. Está um farrapo. A médica diz que isto passa, que não é preocupante, mas eu é que já não aguento tantas horas sem dormir... às vezes no trabalho deixo cair a cabeça no teclado...
- Oh homem, não seja por isso... vou dar-lhe aqui uma dose matinal de energia.
- O quê? o seu famoso café?
- Claro! Ou acha que os grandes génios que aqui vêm se contentam apenas com um café... tem de ser especial.
- Então o café não é todo igual?
- Não homem. Na generalidade o café que se bebe por aí, e mesmo no dia-a-dia, aqui, é o chamado Arábica, mais suave, menos cafeína, mas o meu Robusta, sem misturas, é o mais concentrado em cafeína, e vai ver que depois de lhe o dar, o dia até vai render mais uma hora...
- Ora, ora... não acredito!
- Ai não? Pois fique sabendo, que depois de ter bebido um café assim, sabe o que disse Maomé?
- Ora, mais uma das suas sapiencias. Então diga lá.
- É obviamente um exagero, mas diz-se que esse profeta de Alá, disse, após a ingestão deste liquido fortificando e maravilhoso, vai ter de me desculpar este afloramento ao café, mas é realmente assim que o considero, que "estava pronto a cavalgar 40 ginetes e possuir 50 mulheres". Não lhe garanto que saia daqui assim, mas pelo menos, vai muito mais bem disposto para o trabalho.
- Olhe, bem disposto já me pôs, por isso venha de lá esse café. Mas antes dê-me é uma torradinha com essa manteiga de vaca que você guarda aí, e um sumo de maçã.
- Está já aqui, sabe que isto de servir clientes de hábitos tem as suas vantagens... já sabemos o que vão pedir.

O Café como Local de Culto

É no café que os amigos se reunem.
É em volta de uma mesa, acompanhados de café (como estamos aqui) que os grandes génios intelectuais se manifestam.
Foi certamente, no café, que se organizaram revoluções (ainda ontem ouvia o que diziam os meus "companheiros" de mesa acerca do que fazer quanto às soluções para este governo), é também nesses recantos que os grandes treinadores preparam os seus jogos (é ver dois ou três a conversar sobre futebol e a sagacidade e tecnicismo futebolístico, e percebemos logo que ali está certamente o sucessor de Mourinho ou mesmo o próximo seleccionador nacional).
É também no café que surgem os grandes romances, a partilha cumplíce, a troca de conhecimentos entre muitas outras coisas.
O café passou a representar, em muitos casos, o local de conversa amena e de reflexão em deterimento dos próprios locais de culto, conforme atestado por Alexandre Dumas, no seu Dicionário de Cozinha:
"O gosto pelo café foi levado a um extremo tão grande em Constantinopla que os imans se queixavam de ter as mesquitas vazias enquanto os salões de café se encontravam cheios".

Factos Curiosos Sobre o Café

  • A planta do café, no seu estado selvagem pode atingir os 15 mt. de altura;
  • tem uma longevidade de 50 anos, floresce a partir dos 3, mas só atinge maturidade produtiva a partir dos 5 anos;
  • as folhas são identicas às da cameleira;
  • uma planta de café, na sua maturidade, produz entre 400 gr e 2,2 kg.
  • a flor é branca, com 5 pétalas e possui um agradável odor entre os jasmim e a laranja;
  • num só cafeeiero podem aparece mais de 30 mil flores;
  • cada grão de café está coberto por uma películoa celulósica de tom amarelo-pálido, a que se chama pergaminho (daí que possa ser por isto que os escritores se inspiram e apresentam obras literárias e outras genealidades intelectuais e da arte, sempre acompanhados por este nobre liquido) - grifo acrescentado.
in "Cartilha do Amante de Café"

segunda-feira, janeiro 16, 2006

" O café é uma espécie de semente de cor amarela-limão que tem um aroma particular. A sua infusão fortifica os membros, limpa a cútis, seca os humores malignos e perfuma o corpo humano."

- Abu ibn Sina (médico e filósogo iraniano chamado Avicena (930-1036))

Saí do Nicola, onde, depois de uma amena cavaqueira com Bocage e umas canecas de café quente, me senti revigorado para a noite fria que me esperava.
Subi a Rua do Carmo, calmamente, e na minha cabeça sobejavam palavras, acompanhadas pela banda sonora dos UHF, músicas, não tão antigas como Bocage, mas igualmente reconfortantes recordações da juventude.
Virei para o Chiado, e o barulhinho do café começou a chegar-me.
Estava um bocadinho atrasado, mas cheguei e sentei à sua mesa.
Já o Pessoa tinha pedido, e numa chávena de café fumegante, deambulamos nas palavras por várias horas, sempre acompanhados pelo fumegante e expesso liquido.
Despedi-me tardiamente, com a promessa de voltar.

Não cumpri...