sexta-feira, maio 26, 2006

"O Colega do Lado" - Mª João Lopo de Carvalho

Recebi este texto por E-mail e não posso deixar de o transcrever para aqui. Esta é realidade do nosso dia-a-dia e por estra tão bem descrito, deixo aqui, para quem não teve ainda a oportunidade de ter lido este texto.
Gramamos a família porque a hereditariedade nos impõe, gramamos o marido (ou a mulher) porque o escolhemos de livre vontade, mas gramamos os colegas de trabalho porque nos calham na rifa e temos de levar com eles em cima, a bem ou a mal, na melhor das hipóteses, oito horas por dia.
Ou seja: a família, quando muito, aos domingos e feriados; o marido e os filhos, duas, três horas por dia, no máximo (metade das quais a ver televisão ou a partilhar tarefas domésticas); e os outros, para os quais não fomos ouvidos nem achados, dispõem de mais tempo e de mais espaço do que toda a nossa vida somada.
É com eles que rimos, choramos, que nos irritamos, que amuamos, que lixamos ou somos lixados, que vamos à bica e às compras, é a eles que avaliamos, que ajudamos, são eles os nossos carrascos e cúmplices, os nossos amigos ou, pior, os nossos principais inimigos. É no trabalho, acho eu, que revelamos as nossas grandes capacidades e virtudes, mas também, e como há tempo para tudo, o pior que o ser humano tem: a inveja, o rancor, a gula (roubo todas as caixas de chocolates onde os meus olhos vão parar), a vaidade, a intriga, o orgulho, a luxúria (enfim, todos sabem como e porquê. "Ai, você hoje está linda.", "Acha dr.?", "Não acho, tenho a certeza, brilha como a lua").
O ambiente de trabalho é assim, muitas vezes, uma impiedosa arena do circo romano onde se mata quem é fraco, sobrevive quem é forte. É esta a tragédia da questão. Competitividade e matança são armas letais de significado idêntico - desafie-se o poder! Mas como perder ninguém quer, ligamos a competição à ambição (a longo prazo) e à ganância (a curto prazo), tudo em circuito fechado, para que a via-sacra da matança seja forte demais e excitante demais para a conseguirmos abafar. (...)
Há sempre um gajo porreiro em que nos escudamos e que, de facto, não nos quer tramar às primeiras; um gajo que tem dias e que ora amanteiga para direita, ora amanteiga para a esquerda - é o gajo que quando a coisa corre bem foi ele próprio que a fez (é "muita bom"), quando corre mal, fomos nós, pobres inexperientes e ele até se fartou de nos avisar, infelizmente não acreditámos no seu teatro.
Adoro a tribo dos manteigueiros frenéticos: aqueles que só saem depois do chefe nem que fiquem a jogar paciências no computador, que nos desfazem em strogonof pelas costas, que controlam as nossas entradas e saídas de cena, bichanam com os seus superiores e ajustam contas com as secretárias e o pessoal, a quem com tanta alma chamam "menor", baralhando sem pudor humilhação com humildade. Prefiro o folclore dos que gritam como ovelha a ser degolada mas que depois se redimem ao acrescentarem uns parágrafos triunfais na "porra" do dossiê.
Nós os portugueses adoramos reunir. Podemos não fazer a ponta de um corno, mas reunir tem de ser. Basta reunir e já está! Não é nunca o ponto de partida, é sempre o ponto de chegada. E antes de reunir gostam de planear a estratégia para tramar o parceiro. Pode não haver estratégia para mais nada, mas para tramar o colega do lado aqui vai disto.
Agressividade quanto baste é a metodologia (odeio esta palavra) para chegar ao poder. Todos conhecem a cartilha, a cru ou disfarçada de fada boa.
Em suma, os portugueses acham que para serem melhores têm de arranjar alguém para mau da fita, é a teoria dos vasos comunicantes em todo o seu esplendor. É com "vasos" destes - que à partida não são nem amigos, nem filhos, nem marido, nem sequer os escolhemos num menu - que temos de partilhar o cheiro, a voz, e o génio; das ramelas, à barba por fazer; das malhas na meia ao rímel esborratado, todas as horas, todos os dias, todos os anos. É tudo uma questão de "ambiente" no trabalho!

in Expresso

10 comentários:

  1. Já o tinha lido no jornal. É bem verdade.

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  2. tudo uma questão de ambiente de trabalho...
    excelente..

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  3. Não conhecia, mas é a mais pura das verdades
    bom fim de semana

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  4. bolas... e que mau ambiente!!!!

    Eu nunca tive uma dessas!!! Com o patrão que tinhamos o mau da fita eramos todos!!! LLLLLLOOOOOOLL
    Até que ficou sozinho... com cerca de 10 despedimentos e 10 contartos novos por ano! Porque será?!!

    Agora.. ai, maravilha!! Trabalho sozinha, sem ninguem pra controlar a minha hora de saída ou chegada! Sem ninguém pra ver que roupa levo...
    O pior é que tambem posso blogar sempre que quero! LOL... por falar niss... ja chega! :o\

    BJss
    PS - ui! nem pensar! de cor-de-rosa ja me bastam as roupitas que vierem da sobrinha! nem laços nem folhos! é como dizes... é bem mais importante uma fatito de neoprene e uma prancha :o)
    BJss

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  5. É uma triste constactação da realidade. Com maior ou menor intensidade, mas é assim em todo o lado.

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  6. Eu tambem ja tinha lido e concordo.
    Beijinhos

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  7. Este cafézito anda meio abandonado. Vamos a mexer os dedinhos. Gerencia preguiçosa tss tss

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  8. Best regards from NY! » » »

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...deixai aqui as vossas PéRoLaS enquanto degustais o café... e à saida não vos esqueçais da gorgeta...